sábado, 8 de agosto de 2009


É possível Crer sem ser Discípulo?


Creio que em alguns artigos num outro blog que escrevo, a minha visão escatológica e hermenêutica dispensacionalista ficou bem clara. Até aqui, tenho percebido no dispensacionalismo uma perspectiva que me satisfaz, enquanto leio e procuro entender o texto bíblico.

Mas, algo me incomoda profundamente no meio dispensacionalista: a sua abordagem soteriológica. Esta dicotomia que se faz entre ter a Cristo como Salvador e não como Senhor, ou, entre crer em Cristo e ser discípulo dEle. Isso não é algo novo, já que John MacArthur (um dispensacionalista) escreveu seu livro "The Gospel according to Jesus" há quase vinte anos atrás, criticando essa visão.

Teologias Sistemáticas como a de Chafer e Ryrie, mais a proposta de Scofield em sua Bíblia com anotações, nos revelam um entendimento de que a pessoa pode ser salva, sem, necessariamente, ter Cristo como o Senhor de sua vida. A implicação é que o salvo nem sempre dará frutos de transformação pós-conversão.

Lembro sempre de ouvir João 8.31 como base para a separação do discipulado e fé. Ali pessoas que crêem em Cristo, são chamadas a se tornarem seus discípulos. Eram salvas, mas não discípulas. O problema de tal afirmação é que não leva em conta o contexto. O evangelho de João retrata pessoas que expressam uma fé em Jesus, mas não uma fé, realmente, salvadora. O próprio capítulo 8 continua narrando a conversa de Jesus com esses judeus que, supostamente, "creram nEle" e os chama de filhos do Diabo (8.44), além de afirmar que, de fato, não acreditam em quem Ele afirma ser (8.42-47).

O próprio final do capítulo 2.23-25 de João diz: " ... muitos viram os sinais milagrosos que ele estava realizando e creram em seu nome. Mas Jesus não se confiava a eles, pois conhecia a todos. Não precisava que ninguém lhe desse testemunho a respeito do homem, pois ele bem sabia o que havia no homem". O fato dessas pessoas crerem em Jesus, não significava, necessariamente, que eram salvas, pois não era uma fé que compreendia a majestade e missão da Pessoa de Jesus. Tanto que no capítulo seguinte, Nicodemos se apresenta elogiando Jesus, como Mestre da parte de Deus e o Senhor lhe declara sua total necessidade de nascer de novo, para, realmente, experimentar o reino de Deus em sua vida. Nicodemos é o retrato daqueles que creram em seus milagres: "ninguém pode realizar os sinais milagrosos que estás fazendo, se Deus não estiver com ele" (Jo 3.2), mas ainda precisava "nascer de novo" (3.3).

Por fim, o propósito de João não era apenas levar seus leitores à fé em Cristo, mas a uma fé que frutificasse em discipulado, numa vida abundante por meio de Cristo: "Jesus realizou na presença dos discípulos muitos outros sinais milagrosos ... Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome" (Jo 20.30-31).

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